Que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores naquelas tardes fagueiras à sombra das bananeiras debaixo dos laranjais.
Casimiro de AbreuO mar é – lago sereno; O céu – um manto azulado; O mundo – um sonho dourado; A vida – um hino d’amor!
Casimiro de AbreuEu sinto que esta vida já me foge qual d'harpa o som final, e não tenho, como o náufrago nas ondas, nas trevas um fanal!
Casimiro de AbreuEu vi-a e minha alma antes de vê-la sonhara-a linda como agora a vi; Nos puros olhos e na face bela, dos meus sonhos a virgem conheci.
Casimiro de AbreuSão duas almas bem gêmeas que riem no mesmo riso, que choram nos mesmos ais; São vozes de dois amantes, duas liras semelhantes, ou dois poemas iguais.
Casimiro de AbreuMinha alma é triste como a flor que morre pendida à beira do riacho ingrato; nem beijos dá-lhe a viração que corre, nem doce canto o sabiá do mato!
Casimiro de AbreuAssim como a linda rosa, murcha e cai no seu rosal, não resistindo, mimosa, ao sopro do vendaval, a vida também se extingue quando estala o coração pela perda duns amores... a derradeira ilusão.
Casimiro de AbreuComo são belos os dias do despontar da existência! Respira a alma inocência como perfumes a flor.
Casimiro de AbreuSimpatia, meu anjinho, é o canto do passarinho, é o doce aroma da flor; são nuvens dum céu dagôsto, é o que me inspira teu rosto... Simpatia, é quase amor!
Casimiro de AbreuMinha alma é triste como o grito agudo das arapongas no sertão deserto; e como o nauta sobre o mar sanhudo, longe da praia que julgou tão perto!
Casimiro de AbreuSe eu soubesse que no mundo existia um coração, que só por mim palpitasse de amor em terna expansão; Do peito calara as mágoas, bem feliz eu era então!
Casimiro de AbreuMinha alma é triste como a voz do sino carpindo o morto sobre a laje fria; e doce e grave qual no templo um hino, ou como a prece ao desmaiar do dia.
Casimiro de AbreuEu me lembro, eu me lembro! Era pequeno e brincava na praia; o mar bramia e, erguendo o dorso altivo, sacudia a branca espuma para o céu sereno.
Casimiro de AbreuA vida é triste. Quem nega? Nem vale a pena dizê-lo. Deus a parte entre os seus dedos qual um fio de cabelo.
Casimiro de AbreuA velhice tem gemidos: a dor das visões passadas; a mocidade queixumes; só a infância tem risadas.
Casimiro de Abreu